Na última semana, meio atabalhoadamente, finalmente assisti ao documentário José e Pilar (2010), dirigido por Miguel Gonçalves Mendes e co-produzido pela O2 de Fernando Meirelles.
Há tempos ando atrás dele. Do filme. Aliás, quem me conhece sabe que eu vivo atrás deles, e eles me fogem, ó pá... Perdi a projeção comercial em São Paulo - ir ao cinema hoje em dia me tem sido cada vez mais difícil -, então pedi a uma amiga que mora em Lisboa que o comprasse em DVD e enviasse pra mim por alguém. "Fabi!", ela me disse, "o Miguel vai a São Paulo em novembro, pode te levar o DVD e ainda fazer uma palestra para os seus alunos sobre o filme, o que você acha?" O que eu acho??? Maravilhoso, né? (viram como às vezes vale mesmo a pena esperar que as coisas venham a nós, em vez de ir até elas?... :) )
Pois é. Mas o Miguel não pôde vir... Ainda. E, justamente no dia em que recebo essa notícia, abro o site da Livraria Cultura e lá está ele: o DVD José e Pilar! Lançado no Brasil! Claro que comprei no mesmo minuto...
Já tinha escutado tanta coisa a respeito desse filme.
"Longo demais."
"Saí chorando do cinema."
"Mostra o cotidiano do escritor."
Mas o que mais me chamava a atenção eram as observações sobre Pilar del Río, a mulher de Saramago:
"Fabiana, a Pilar matou o Saramago de trabalhar..."
"Ela muito vaidosa, muito insinuante, querendo aparecer por conta dele"...
"O documentário mexe mesmo, Fabi. E olha que nem sou tão fã assim da Pilar..."
"Tudo bem, ela ajudou muito, mas essa coisa de fazer do Saramago um pop-star..."
E lá fui eu assistir ao filme, com a tal pergunta na cabeça: assassina ou não assassina, essa Pilar? Matou ou não matou?
Gente... Observação no. 1: o filme é lindo!... "Cruel e delicado", como diz o trailer... Imagens super trabalhadas, trilha sonora incrível. Lindo!
Observação no. 2: a certa altura, no lançamento de A viagem do elefante em São Paulo (acho que é deste livro), uma mulher brasileira chega bem perto da mesa em que Saramago está assinando os livros, abaixa-se ao pé do ouvido dele e sussurra: "Eu te amo"... Pois é. Essa podia ser eu! :)
Observação no. 3 (e agora tenho de tomar fôlego): não vou responder à pergunta fatal!!! :)) Não vou dizer se, na minha opinião, Pilar matou ou não matou Saramago de trabalhar!!! :)
Nada disso: vou deixar que vocês assistam ao filme e cheguem às próprias conclusões! Claro! :)
Só vou dizer uma coisinha: o filme é um documentário. Certo? Então, como expectadores de um documentário, vamos até ele buscando uma verdade. Fazemos um pacto de veracidade com o filme, ao assisti-lo. Quem está ali é o Saramago, certo? É a Pilar, certo?
Claro que não!!! É - apenas em parte...
E, nessa transformação de fato em representação, o que mais me chama a atenção, em nós, que a recebemos, é que a leitura que fazemos dela me parece sempre marcada por modelos de representação!
Vejam só: quem classifica o filme de "uma bela história de amor" não estaria vendo nele... uma história de amor?? Quem procura em Pilar, ou em quem quer que seja, um culpado para a morte (trágica, não?!?) do herói (Saramago) não estaria vendo nele... um thriller de mistério, buscando vilões? Ou uma tragédia clássica, com a morte final do protagonista sucumbido por suas próprias escolhas?
Não vou responder aqui ao "matou ou não matou", já disse... Mas... Olhem para o filme com olhos um pouco mais abertos. E talvez vocês consigam chegar a uma resposta só sua e, que, por repetida, talvez possa ser a de muitos. Contada de muitas maneiras. Porque tudo pode ser contado de outro modo.
PS - Miguel: teu trabalho se apossou de mim por vários dias e noites, me tirou o sono, me emocionou às lágrimas. Obrigada por isso.
Gente... Observação no. 1: o filme é lindo!... "Cruel e delicado", como diz o trailer... Imagens super trabalhadas, trilha sonora incrível. Lindo!
Observação no. 2: a certa altura, no lançamento de A viagem do elefante em São Paulo (acho que é deste livro), uma mulher brasileira chega bem perto da mesa em que Saramago está assinando os livros, abaixa-se ao pé do ouvido dele e sussurra: "Eu te amo"... Pois é. Essa podia ser eu! :)
Observação no. 3 (e agora tenho de tomar fôlego): não vou responder à pergunta fatal!!! :)) Não vou dizer se, na minha opinião, Pilar matou ou não matou Saramago de trabalhar!!! :)
Nada disso: vou deixar que vocês assistam ao filme e cheguem às próprias conclusões! Claro! :)
Só vou dizer uma coisinha: o filme é um documentário. Certo? Então, como expectadores de um documentário, vamos até ele buscando uma verdade. Fazemos um pacto de veracidade com o filme, ao assisti-lo. Quem está ali é o Saramago, certo? É a Pilar, certo?
Claro que não!!! É - apenas em parte...
E, nessa transformação de fato em representação, o que mais me chama a atenção, em nós, que a recebemos, é que a leitura que fazemos dela me parece sempre marcada por modelos de representação!
Vejam só: quem classifica o filme de "uma bela história de amor" não estaria vendo nele... uma história de amor?? Quem procura em Pilar, ou em quem quer que seja, um culpado para a morte (trágica, não?!?) do herói (Saramago) não estaria vendo nele... um thriller de mistério, buscando vilões? Ou uma tragédia clássica, com a morte final do protagonista sucumbido por suas próprias escolhas?
Não vou responder aqui ao "matou ou não matou", já disse... Mas... Olhem para o filme com olhos um pouco mais abertos. E talvez vocês consigam chegar a uma resposta só sua e, que, por repetida, talvez possa ser a de muitos. Contada de muitas maneiras. Porque tudo pode ser contado de outro modo.
PS - Miguel: teu trabalho se apossou de mim por vários dias e noites, me tirou o sono, me emocionou às lágrimas. Obrigada por isso.